João Vitor: "A IA já faz alguns trabalhos melhor do que muita gente"
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João Vitor: "A IA já faz alguns trabalhos melhor do que muita gente"

João Vitor: "A IA já faz alguns trabalhos melhor do que muita gente"

Por:
Soraia Yoshida
Publicado em:
26/2/2024

A nova onda de produtividade está chegando – e quem está puxando o bonde é a Inteligência Artificial Generativa (IA Generativa ou GenAI), a IA que pode ser usada para criar novos conteúdos, incluindo áudio, código, imagens, texto, simulações e vídeos. Aliada a outras tecnologias, o potencial é de automatizar as atividades de trabalho que hoje absorvem de 60% a 70% do tempo dos colaboradores, segundo estudo da McKinsey & Company. “A mudança já é uma verdade”, afirma João Vitor, sócio e COO & CPTO do G4 Educação. “Só vai mudar o quão profunda essa transformação pode ser e já é profunda para caramba. Mas que vai acontecer, vai”.

À frente do G4 AI, solução que agrupa os principais processos do G4 Educação em 20 ferramentas de gestão de negócios, João Vitor entende que vivemos hoje uma onda de investimento em Inteligência Artificial, que será seguida de adoção e na sequência, treinamento e desenvolvimento de colaboradores. “Eu apostaria que entre 2024 e 2025, nós veremos o primeiro boom de adoção”, diz.

Essa aceleração do potencial de automação técnica é resultado da capacidade da IA generativa de processar a linguagem natural, empregada em pelo menos 25% do tempo total de trabalho. Cada vez que pensamos em e-mail, post nas redes sociais, comunicação interna e toda uma série de momentos que envolvem texto, imagem e vídeo, a IA Generativa pode entrar para fazer a diferença.

O estudo da McKinsey aponta que somente no setor bancário, a tecnologia poderia gerar um valor adicional de US$ 200 bilhões a US$ 340 bilhões por ano. No varejo e nos bens de consumo embalados, o impacto potencial poderia ser de US$ 400 bilhões a US$ 660 bilhões por ano. Agora, imagine esse impacto em todas as áreas. Não é uma onda, é um tsunami.

“Sabe aquela expressão “o gênio saiu da lâmpada”? Ela passou a valer no momento em que criaram modelos de IA open source [com código aberto], que muita gente baixou no computador e começou a usar.”

Na entrevista a seguir, João Vitor explica mais sobre a adoção da IA Generativa, como ele acredita que as pequenas e médias empresas deveriam olhar para a IA e por onde começar, para quem está chegando agora à conversa.

Relatórios recentes apontam que a IA Generativa (AI Gen) vai lançar uma nova era da produtividade e mudar como as empresas enxergam valor em seu negócio. Outros dizem que estamos vivendo uma era assustadora. Qual é a sua visão, mais produtividade ou mais problemas? Como você enxerga esse cenário no Brasil?

Eu enxergo a maioria das empresas adotando o uso de IA Generativa para melhorar aquilo que elas já fazem. Talvez em um curto período de tempo, depois que as empresas tiverem sentido esse ganho em produtividade e recursos, a gente veja uma mudança na visão de onde essas empresas enxergam o valor. Mas eu diria que no primeiro momento, áreas em que as empresas antes não colocavam tanta energia talvez possam fazer mais sentido.

Um exemplo: otimização de back-office. O back-office requer muito esforço, demora para você ver o ganho, é muito diferente de uma linha de produção na indústria. O esforço necessário para otimizar o back office versus o ganho que você vai ter vai ser grande, então a tendência é que as empresas façam isso. A minha visão é que todas as áreas em que você vai usar a IA para favorecer e facilitar a entrega do objetivo final da sua empresa, seja uma indústria, seja a produção de bens de consumo, seja uma empresa de serviços, é prestar aquele serviço para o seu cliente de forma mais rentável e assim por diante. 

Não seria uma oportunidade para as empresas alocar o tempo e recursos para a criação de novos negócios?

Aí tem duas vias. Nas grandes empresas, que já têm uma gestão muito profissional, é mais provável explorar novos negócios. Em empresas pequenas e médias, acho que vai depender mais da razão pela qual aquela empresa existe. Algumas empresas nasceram a partir de uma oportunidade e, nesse caso, as chances são maiores de usar esse ganho de produtividade, eficiência e rentabilidade para buscar novas oportunidades. Já nas empresas criadas por necessidade, que surgiram para gerar uma renda ou cuidar da família, o empresário quer fazer mais daquilo que ele já faz.

A IA é uma grande aceleradora ou facilitadora daquilo que se quer fazer. Se o empresário já queria expandir e aproveitar oportunidades, vai ficar mais fácil. Para algumas pessoas, talvez a IA faça com que esse empresário queira fazer algo diferente, mas esse não é normalmente o caminho.

Neste momento, a Inteligência Artificial (IA) pode não apenas ser uma alavanca de crescimento como dar à empresa uma vantagem diante da concorrência. Isso deve continuar por algum tempo ou usar IA vai virar commodity?

Benedict Evans [prestigiado analista que é uma das autoridades em IA e novas tecnologias] diz em um de seus talks que IA "vai ser apenas um software". A tendência é que a IA vire uma coisa que faz parte do seu dia a dia, assim como hoje você chega ao escritório, liga o computador e ele está conectado à internet. É o que você espera que aconteça. Quando chegarmos nesse ponto, em que a IA vai fazer parte de todas as coisas, ela vai deixar de ser um diferencial. Somente as empresas que estão construindo modelos proprietários é que terão essa vantagem.

A maioria, porém, vai pegar um modelo de IA produzido por alguma empresa ou então um modelo open source e implementar no seu fluxo de trabalho. Dado que todo mundo poderá fazer isso, é difícil que vire um diferencial no longo prazo. No curto prazo, essa diferença é pela curva de adoção, em que quem está usando há mais tempo entende melhor como funciona ou então quem usa a versão mais avançada do ChatGPT, mas depois de um tempo, todo mundo terá acesso à mesma ferramenta. E aí vira commodity. 

Portanto, é uma vantagem que vai durar pouco tempo.

Sim. Hoje a IA é um diferencial e pode permitir o crescimento tão rápido, pegar mercado tão rápido, que a vida do seu competidor vai ficar muito difícil. No médio e longo prazo, não faz sentido ser tratado como diferencial, a não ser que você esteja criando o seu modelo proprietário, que é muito superior aos modelos que seus competidores vão usar. Se todo mundo usa o mesmo modelo, não tem como. Seria o mesmo que dizer “Minha internet me dá um diferencial competitivo”. Não é, seu competidor tem a mesma internet. 

O que é um diferencial competitivo? O diferencial competitivo ou vantagem competitiva é basicamente aquilo que te permite cobrar mais ou gastar menos do que os seus competidores e é exclusivo seu. Então, se você tem uma vantagem competitiva que te permite cobrar mais, que é replicável, que outra pessoa pode pegar, ela não é uma vantagem. Por que a marca é uma vantagem competitiva e um time de pricing não é? Porque a marca é sua. Seu competidor não replica a sua marca. Ele pode construir a dele, mas é outra marca. Talvez, neste momento, a IA esteja sendo usada como se fosse um diferencial competitivo, mas ela de fato não é. 

Você acha que teremos um segundo ou terceiro grande boom de investimento em tecnologia? E outro ponto: investindo em gente que saiba usar essa tecnologia?

Do ponto de vista das empresas que vão usar a tecnologia de IA, eu diria que a gente não teve nem o primeiro boom. O boom de investimento está acontecendo e as empresas estão trabalhando em como trazer a IA para a empresa, então eu apostaria que entre 2024 e 2025, nós veremos o primeiro boom de adoção. A maioria deve começar investindo em sistema/tecnologia e depois em pessoas. Quando eu falo em pessoas, eu me refiro a trazer gente especializada. Acho que as empresas vão investir em treinamento e desenvolvimento na segunda onda, entendendo que não adianta nada ter ferramenta e não ter gente boa para operar. Essa é a minha visão. 

Pensando nessa curva de aprendizagem e adoção, em quanto tempo uma empresa é capaz de ver resultados a partir do uso da ferramenta?

Eu acho que se você usar o ChatGPT todo dia, no máximo em um mês terá uma boa noção de onde e como a IA consegue te ajudar e onde não. As outras implementações vão demorar mais e vão ser caso a caso. Para usar no Comercial, por exemplo, vai depender se a empresa já conta com time de tecnologia, algum programador com mais conhecimento e isso talvez leve mais um mês no processo. Se tiver que começar do zero, vai levar mais tempo. Mas no geral, eu acho que um mês de contato diário com a IA é mais do que suficiente para ter uma boa visão das possibilidades. Daí para a implementação, acho que é muito caso a caso mesmo. 

Você enxerga algum segmento que neste momento esteja “blindado” contra a IA ou que vai adotar mais rapidamente do que os outros?

Na minha visão, quanto mais o trabalho for intelectual, por assim dizer, como escrever, levantar informações, analisar dados, em que uma entrega nota 7 a 8 é suficiente, mais rápida será a adoção de IA. Para aqueles trabalhos em que você precisa de uma entrega nota 9,5 a 10, aí você vai precisar de um bom profissional. Por quê? Porque as melhores pessoas do mundo vão ser melhores que a IA. 

Nós fizemos esse teste no G4. O que vimos é que a IA tinha uma média muito parecida com a das outras pessoas. Aplicando o desvio padrão, a variância da nota da IA era muito baixa. Então, em nenhuma aula, em nenhum curso, a IA foi superior à pessoa que se saiu melhor. Se para o seu negócio basta uma entrega 7 ou 8, a IA vai brilhar. Se você precisa de uma entrega 10, com os modelos disponíveis neste momento, ainda tem muito espaço para as melhores pessoas do mundo. 

Quanto menos mundo físico, mais fácil é para a AI penetrar nos processos. Tem um anúncio que eu vi em um outdoor que dizia: “ChatGPT, finalize a construção desse prédio”. Isso vai demorar mais. Agora, pensando em um trabalho de escritório, a IA já faz melhor do que muita gente. 

Para um empresário que está começando seu negócio, ler sobre Inteligência Artificial é algo que pode assustar. Por onde começar e como aplicar?

Eu diria para começar aprendendo a usar bem o ChatGPT 4.0 e o Bing AI. E quando eu digo usar, é ele mesmo pesquisar, conversar com a ferramenta, ver o que consegue fazer em análise de dados. É muito mais fácil entender o potencial de uma coisa depois que você usou em cima de uma ideia. Na hora que você usa, fica mais fácil. Depois disso, eu começaria pelo formato de copiloto, ou seja, a IA ajudando as pessoas a serem mais produtivas. Só depois é que eu pensaria no formato piloto automático, em que a gente tem substituição de força de trabalho. 

Para você chegar nesse ponto, precisa ter muita clareza dos processos da sua empresa, conhecimento de controle de input e output, otimização de custo, redução de erros. Então, de novo: pegue você mesmo e use para entender como a IA pode alavancar a capacidade das pessoas e, por fim, a IA para substituir mão de obra. 

Qual é o seu conselho para quem nunca aplicou IA no negócio?

Comece usando isso do lado de dentro do negócio, antes de pensar em usar para fora. Pegue o melhor modelo disponível no momento – seja ChatGPT 4.0, Cloud, Google Ultra – e comece a usar e tentar melhorar as coisas dentro da empresa. Quais são os erros mais comuns que eu vejo? Usar o modelo mais barato só porque ele é mais barato, e aí achar que a IA não serve para o seu negócio. Se a ferramenta que você usou é ruim, você só vai perder tempo e não aprender nada. Comece com o modelo mais potente porque se nem ele resolver o seu problema, os outros não vão fazer a mágica acontecer. Olhe para dentro de casa, onde você conhece melhor os processos e controla o ambiente.

E não comece criando um produto só para usar IA. Criar esse negócio é difícil, você não conhece o usuário, não tem controle de como ele vai usar, então o foco tem que estar em melhorar aquilo que a sua empresa já faz. Aí é onde você vai ter os ganhos em produtividade e redução de custos. Você até poderia ganhar dinheiro vendendo um novo produto que usa IA, mas é muito mais desafiador. Resumindo: procure o melhor modelo possível e olhe para dentro de casa. Esse é o jeito que quase todo mundo deveria começar.

E começar agora porque estamos em um caminho sem volta, certo?

Sabe aquela expressão “o gênio saiu da lâmpada”? Ela passou a valer no momento em que criaram modelos de IA open source, que muita gente baixou no computador e começou a usar. Não tem volta. Para mim, a mudança já é uma verdade. Só vai mudar o quão profunda essa transformação pode ser. E já é profunda para caramba. Eu não sei dizer quão rápido vai ser essa adoção, mas que vai acontecer, vai. 

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