Visão de Negócios: o que é e o passo a passo de como construir
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Visão de Negócios: o que é e o passo a passo de como construir

Visão de Negócios: o que é e o passo a passo de como construir

Por:
Amanda Gushiken
Publicado em:
4/10/2023

Visão de negócios. Todo gestor sabe que precisa, mas poucos de fato conseguem construí-la com clareza. Na verdade, a falta de planejamento foi a segunda maior causa de fechamento das empresas em 2020, de acordo com estudo do Sebrae.

Entre os fatores que contribuíram para o fechamento das empresas, 17% dos entrevistados disseram não ter feito nenhum planejamento, enquanto 59% disseram ter planejado até no máximo 6 meses. E é aí que entra a importância de uma visão de negócios. 

A visão de negócios é um conceito pouco ou mal compreendido entre empresários e empreendedores focados no curto prazo. Sem um planejamento estratégico que identifique os riscos, ameaças, mudanças e oportunidades de um negócio, as chances de sobrevivência das companhias no longo prazo são drasticamente reduzidas.

Ainda conforme os dados do Sebrae, a taxa de mortalidade das empresas após 5 anos é de:

  • MEIs (Microeemprendedores Individuais): 29% fecham após 5 anos de atividade. 
  • MEs (Microempresas): 21,6% fecham após 5 anos de atividade. 
  • EPPs (Empresas de Pequeno Porte): 17% fecham após 5 anos de atividade.

O que é visão de negócios?

A visão de negócio de uma empresa remete ao planejamento estratégico de longo prazo. Assim, a busca pela visão de negócio tem por objetivo responder onde a empresa quer chegar e o que deseja ser no futuro. 

Alguns exemplos de visão de negócios são:

  • Se tornar a número um do seu mercado; 
  • Conquistar espaço internacional por meio da inovação; 
  • Ter sedes em todas as capitais do país; 
  • Ser reconhecida mundialmente como uma empresa pioneira em seu setor; 

Em suma, a visão de negócio é a combinação das declarações de visão e missão, dos valores e do propósito de uma companhia:

  1. Propósito de uma empresa: é o "porquê" da existência de uma empresa. É a razão pela qual a empresa foi fundada ou continua operando, qual é o impacto que ela causa na sociedade. 
  2. Valores de uma empresa: são as crenças, filosofias e princípios que orientam a cultura organizacional de uma empresa. Os valores afetam a experiência dos funcionários, bem como o relacionamento desenvolvido com os clientes, parceiros e acionistas. Os valores são o DNA da empresa e ajudam a diferenciá-la da concorrência. 
  3. Declaração de visão: é para onde a empresa está indo. É como será o futuro se as metas e intenções forem cumpridas e estabelecidas para serem a força motriz de como a empresa define o sucesso. Geralmente é criada pelos executivos, que a utilizam para ajudar a equipe a se entusiasmar com o rumo que a empresa está tomando.
  4. Declaração de missão: é o “como” a empresa atingirá seu propósito enquanto percorre sua visão e coloca em prática seus valores. A declaração de missão é baseada em ações que expressam como a empresa atingirá seus objetivos.

Leia também: The Golden Circle: como funciona o framework + 20 exemplos

Passo a passo para desenvolver uma Visão de Negócios

A construção de uma visão de negócios demanda muita pesquisa por parte do fundador, CEO, diretor-executivo ou dono da empresa, podendo também ser construída em equipe:

Pesquisar o contexto histórico

A pesquisa do contexto histórico poderá fornecer insights de oportunidades disponíveis para os negócios. Por exemplo, no contexto atual, as mudanças climáticas estão em pauta. Assim, companhias com práticas ESG (Environmental, Social and Governance) vêm se destacando nos noticiários, tomando o centro da discussão na esfera pública. 

Outro exemplo de contexto histórico atual é o avanço rápido e contínuo da inteligência artificial (IA). Companhias podem aproveitar esse contexto para implementar a IA em seus processos ou pensar em novas soluções para seus clientes, que envolvam a IA.

Pesquisar sobre a indústria

A pesquisa sobre a indústria ajudará o negócio a entender quem são os players dominantes (se existirem), como chegaram lá e quais mercados ainda podem ser explorados dentro dessa indústria. 

Compreender a cadeia operacional da indústria fornecerá uma visão macro para o gestor, tornando-o apto para considerar variáveis que por vezes não são identificadas pela maioria das pessoas. 

Por exemplo, a Tesla identificou um gap (do inglês, “furos”) na indústria automobilística: não havia uma produção massiva de carros eletrônicos na sociedade. Essa informação, aliada ao contexto histórico da crise climática, foi utilizada pela Tesla para se inserir no mercado como um player inovador e disruptivo que lidera o rumo ao futuro. 

As diferenças entre Micronicho, Nicho, Mercado e Indústria (Crédito: G4 Educação)

Pesquisar sobre o mercado

Sendo uma parcela menor da indústria, o mercado também pode ser um campo a ser estudado em busca de insights e oportunidades de inovação. Assim, analisar os produtos e serviços presentes no mercado no qual o seu negócio está inserido também auxilia na construção da visão de negócios:

Por exemplo, o mercado de brechós tem players que variam muito o público-alvo que miram. Existem brechós de luxo, que funcionam como boutiques, ao passo que também existem brechós preocupados em oferecer os menores preços. Ambos os players atuam no mesmo mercado, porém de forma distinta e mirando clientes diferentes. 

Leia mais: Gestão Estratégica: o que é e como implementar no negócio?

Pesquisar sobre o nicho

Pesquisar sobre o nicho de mercado no qual a empresa está inserida é essencial para qualquer negócio. Por meio dessa pesquisa, é possível identificar as melhores oportunidades de posicionamento para uma empresa dentro de um mercado.

Por exemplo: os cosméticos artesanais formam um nicho dentro do segmento de mercado de cosméticos veganos, que por sua vez fazem parte do mercado de cosméticos, que por sua vez faz parte da indústria da beleza. 

Olhando para o caminho inverso, ao observar a indústria da beleza, existem consumidores engajados em comprar cosméticos. Dentre esses consumidores, uma parcela tem preferência por produtos veganos ou cruelty free (livre de crueldade animal). 

E dentre essas consumidores, existem ainda aqueles que preferem a produção artesanal ante a produção industrial dos produtos que consumirá. Sem uma pesquisa de nicho, se tornaria difícil fazer essa descoberta. 

Leia mais: Planejamento estratégico: o que é e como implementar na gestão empresarial?

Pesquisar os hábitos de consumo

A pesquisa sobre os hábitos de consumo na sociedade pode fornecer informações valiosas sobre o público-alvo. Nunca antes na história tivemos tantas gerações convivendo simultaneamente. Esse fato por si só já gera uma demanda de que os negócios entendam o público consumidor.

Somado a isso, as particularidades geracionais levam a diferentes hábitos de consumo: por exemplo, uma pessoa da geração Z pode ter preferência pelas compras online, enquanto uma pessoa da geração X pode preferir fazer as compras presencialmente.

Entender o perfil demográfico do público-alvo e realizar um estudo de personas pode fornecer uma visão de negócios mais clara, tornando o cliente mais compreensível em suas tomadas de decisão e em como ele se relaciona com as empresas. 

Pesquisar a concorrência

A pesquisa sobre a concorrência é uma enriquecedora ferramenta para encontrar oportunidades de diferenciação. Essa pesquisa consiste em identificar os produtos ou serviços que já estão disponíveis no mercado e quais são os gaps que eles deixam. 

Ou seja: qual é o espaço que ainda existe no mercado? Como o seu concorrente não está atendendo ou agradando aos clientes? Quais funcionalidades o produto poderia ter que os concorrentes não têm? Essas são algumas perguntas que norteiam a análise dos competidores.

Definir a visão de negócios

Por fim, após realizar as pesquisas, o gestor ou o time podem compilar todas as informações relevantes encontradas para montar a visão de negócios, que basicamente responde à seguinte pergunta: onde a companhia se vê no longo prazo?. 

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Como integrar a Visão de Negócios na estratégia da empresa?

Confira abaixo os principais passos para integrar a visão de negócios na estratégia da empresa:

#1 - Qual é o contexto histórico?

Analisar o contexto histórico é essencial para qualquer negócio, seja em sua estreia no mercado e na escolha de um produto ou serviço com demanda existente, seja no planejamento estratégico de longo prazo da companhia.

O contexto histórico faz referência aos acontecimentos mundanos que acabam por delinear, delimitar ou eliminar segmentos, mercados e indústrias. Esses acontecimentos impactam diretamente no sucesso ou derrota de uma empresa.

Por exemplo, a Apple compreendeu o contexto histórico no qual estava inserida em 2007, quando lançou o iPhone. A companhia, que já fabricava computadores, notebooks e iPods (dispositivos para ouvir músicas), enxergou a oportunidade de convergência de seus produtos em um único: o iPhone. 

Com acesso à internet, a funcionalidade de ouvir música além de todas as funções ofertadas pelos celulares da época, a Apple revolucionou não somente uma indústria, mas o mundo todo. A visão de negócio da gigante de tecnologia foi observar onde o mundo estava e onde ele iria chegar.

Em 2007 já existia uma demanda por trocas de informações mais eficientes. Logo, os computadores e notebooks se tornariam ferramentas muito importantes para acessar a internet de qualquer lugar do mundo.

Assim, a empresa apostou em 2007 que o mundo seria completamente diferente nos próximos 10 anos, com as pessoas massivamente acessando a internet, ouvindo música e realizando outras atividades por meio de seus smartphones. A aposta foi assertiva, e hoje a Apple é a segunda maior vendedora de smartphones do mundo, perdendo somente para a líder Samsung. 

Leia mais: Estudo de Caso Apple: como ela se tornou a maior empresa de tecnologia do mundo

#2 - Como avaliar a indústria?

Assim como o contexto histórico pode oferecer oportunidades para as companhias, também podem se tornar um desafio a ser superado. Tomemos como exemplo a indústria cinematográfica e televisiva, que sofreu rápidas transformações em sua distribuição: do VHS para o DVD, e então do DVD para o streaming. 

Na migração do DVD para o streaming, a líder do mercado não conseguiu sobreviver: a Blockbuster. Durante os anos 90 e início dos anos 2000, a Blockbuster era a principal locadora de vídeos nos Estados Unidos. 

Além da locação e venda de DVDs, uma das principais fontes de receita da companhia era a cobrança de multas por atraso na devolução dos produtos alugados. Enquanto a sua concorrente Netflix encontrou uma forma de reduzir esse custo para os clientes, principalmente na migração para o streaming, a Blockbuster não reagiu. 

O resultado da decisão foi o fechamento das portas da locadora em 2014, e a rápida ascensão da Netflix como líder no mercado de streaming de vídeos. A falta de visão de negócio dentro do contexto no qual a indústria se encontrava no momento foi um fator que impactou negativamente a trajetória da Blockbuster. 

Leia mais: Estudo de caso Blockbuster: de líder de mercado ao fechamento de 99,99% de suas lojas

#3 - Como avaliar o segmento?

O McDonald’s inovou no segmento de lanchonetes criando um novo conceito para a indústria alimentícia: o fast-food. Ou seja, é um dos primeiros exemplos de marca disruptiva do mundo. E isso foi possível graças à visão de negócio da empresa.

A rede de hambúrgueres enxergou a oportunidade de inovar ao notar que a grande maioria dos clientes de lanchonetes pediam, majoritariamente, dois itens do cardápio: hambúrgueres e batatas fritas. 

Então, a empresa decidiu reinventar seu modelo de negócios ao oferecer os itens mais solicitados do cardápio, mas com um diferencial que a concorrência não tinha: a agilidade no preparo, que encurtava o tempo que o público deveria ficar na fila. 

E assim nascia o conceito de fast-food. Se antes as refeições tinham um tempo para serem preparadas e consumidas, o McDonald’s transformou esse conceito com suas refeições rápidas.  

Leia mais: Estudo de caso McDonald's: como ele se tornou referência em Fast Food

#4 - Como encantar o público?

Os circos costumavam ser locais de entretenimento para a massa populacional, até que o Circo du Soleil reinventou o mercado com a experiência exclusiva de suas apresentações, levando o circo a atrair as elites da sociedade. 

Em uma performance que mistura as habilidades naturais do circo, mas também a teatralidade, a dança, o show de luzes, dentre outras formas de arte, o Cirque du Soleil se tornou líder isolado em seu mercado e uma referência mundial. 

Tudo isso foi possível graças à visão de negócio da companhia, que tem por objetivo e propósito encantar seu público. E esse propósito precede a meta financeira da empresa. Assim, essa preocupação com o encantamento se tornou uma vantagem competitiva para o circo, alavancando seus resultados e permitindo com que se apresentem ao redor do globo. 

Conclusão

Construir uma visão de negócios é um atributo que pode auxiliar no aumento das chances de sobrevivência de uma companhia com o passar dos anos. Empresas que miram o longo prazo e querem se consolidar em seu mercado precisam construir essa visão para que os objetivos não fiquem somente no campo subjetivo, e migrem para o universo palpável. 

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